domingo, 15 de maio de 2016

Centúrias - Ninja/ Ultima Noite

Fechando provisoriamente a sessão de resenhas, venho agora com um ato histórico: a aquisição deste relançamento em cd de duas obras primas do metal nacional. Houve uma época aqui que o metal era cantado em português. Na verdade eu acredito que a solução de se cantar em português foi por pura vontade de mostrar algo na língua nativa já que o inglês não era algo muito praticado por aqui nesta época. Suposições á parte, o que importa aqui é que o som feito pelos caras era foda e imagino que para a época, o Centúrias devia ser um atropelo já que algumas bandas do dito metal nacional não tinham o mesmo peso que eles tinham e confesso até que algumas eram bem fraquinhas e só entraram na turma por conta da amizade como o Salário Mínimo que na minha opinião é uma das fracas desta safra. O mesmo se aplica ao Made in Brazil. Já o Harppia, Azul Limão, essas sim faziam jus de estarem na turma pois eram realmente boas assim como o Centúrias era.
Veja, não estou tentando apagar a história do Salário Mínimo ou mesmo do Made. Apenas não gosto do som que ambas fazem. Tenho meu direito de não gostar certo?
Esta reedição dos dois lp´s do Centúrias veio da ideia de Luiz Calanca que chegou a ser um dos produtores e um dos caras que acreditaram nestas bandas. Podemos dizer que, sem Calanca, muitas destas bandas não veriam a luz do dia e outras tantas só não gravaram pois as condições para se gravar rock pesado naquela época eram risíveis e atrasadas demais. E ainda vem nego dizer que era bom nesta época... Entendo no sentido de que as pessoas se viam mais, as bandas eram mais unidas, pessoas se juntavam mais na casa de alguém para ouvir alguma novidade e tal. Mas, de resto, tínhamos um país recém saído dum regime militar que só atrasou o lado do que beneficiou pois os velhotes deixaram um rombo nos cofres nacionais e o país quebrou totalmente. Além disso, a visão que muitas pessoas "normais" tinham de quem gostava de metal ou de rock eram bem mais cretinas que hoje, sempre vendo quem era cabeludo ou tatuado como sendo bandido ou o que não prestava para a sociedade. Bom, gostaria de saber a opinião de algumas destas pessoas sobre o que elas acham dos que ouvem um certo lixo e que andam e agem como protótipos de bandidos com seus bonés espalhafatosos, bermudas relaxadas e camisetas da oakley e que ainda poluem o ambiente com lixos que apenas retratam o "ser humano" que são.
Em contrapartida a esta visão distorcida, alguns também eram merecedores de tal argumento já que mantinha um certo radicalismo como um deles que acontecia muito aqui: se você estava vestido com alguma camiseta de metal era interrogado acerca daquela banda e caso não soubesse algo, era ordenado a tirar a camiseta pois não "era merecedor de andar com ela". Era a época de chamar de poser, traidor, falso metal... Conheço alguns por aí que me criticaram por gostar de metal e de Madonna que hoje em dia viraram crentes e abandonaram a barca pois "foi a época de gostar de metal". Quem é o traidor? Continuo gostando da Madonna mas também continuo gostando e indo aos shows das bandas, internacionais ou nacionais como acontece com a Trinca mensalmente aqui.
Afirmações e Madonnas a parte, o que tenho em mãos é sim, um clássico. Ou melhor, dois clássicos.
Começando com o fodaço Última Noite, gravado em 85 no estúdio Vice-Versa e com produção de Luiz Calanca. A formação contava com Paulo Thomaz na bateria, Rubens Guarnieri no baixo e Eduardo Camargo no vocal e a banda já iniciou de forma bem positiva com faixas bem legais como Não pense não fale ( no facebook está ocorrendo esta regra não acham?), Rock na cabeça, Chama de pouca idade, Duas rodas, Inferno falso e Ultima noite. Numa pegada bem heavy rock com riffs animais, um vocal apropriado para a proposta e uma cozinha vitaminada a banda tinha tudo a favor mas ocorreu a famosa diferença musical com a saída dos 3 integrantes da banda, restando somente Paulão. E para gravar Ninja, o batalhador trouxe os ex- Harppia Ricardo Ravache no baixo e Marcos Patriota na guitarra mais o vocalista César Zanelli.
Com mais uma vez na produção, Calanca soube captar o som da banda e Ninja veio com as faixas Animal, Senhores da razão, Guerra e paz, Arde como fogo/tohell, Ninja, Fortes olhos, Metal comando e Cidade perdida ( alguém pensou no Guarujá?) e sinceramente achei o som do Ninja bem mais encorpado e com um peso a mais, lembrando no instrumental uma mescla de Accept, Judas Priest e um que de Motörhead.
Além dos dois lp´s, temos mais 3 faixas ao vivo gravadas no dia 28 de março de 88 no projeto sp que ficaram bem gravadas e nota-se um cuidado para não deixar com cara de bootleg mal feito pois consegue ouvir tudo nitidamente e fico imaginando como não eram os shows dos caras...
Tempos depois a banda acabou devido a mudança no mercado pesado aqui já que muitas bandas já tocavam thrash metal e a língua inglesa era a predominante entre as bandas.
Atualmente o Centúrias está na ativa mas sem Paulão que integra o Kamboja e antes tinha integrado o igualmente sensacional Baranga.
Independente da língua cantada, é necessário uma garimpada neste material e entender como tudo começou e se alguém ainda reclama que hoje está difícil ter banda, imagina na época em que esses caras lançaram estes discos.
Puta lançamento. Bom domingo para quem foi correr em evento cujo ganhador foram uma família de pessoas já ricas que ficaram mais ricas as custas do seu "momento saudável". Eu preferi ficar em casa ouvindo Centúrias.... fui.

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